Um estudo do Hospital das Clínicas de São Paulo aponta que há no Brasil cerca de 50 milhões de pessoas que sofrem de ansiedade, uma característica muito comum do mundo contemporâneo. Pressão para cumprir prazos, alta concorrência, interações digitais que nos chegam a todo momento demandando respostas rápidas, responsabilidades crescentes, o mundo profissional cada vez mais invadindo o universo pessoal… Tudo isso colabora para gerar ansiedade e uma sensação de dívida.
Além disso, existe no mundo contemporâneo ocidental uma propaganda cultural que nos incita a sermos felizes, a consumirmos tudo e a viver ao máximo o hoje sem tanta preocupação com as consequências do amanhã. Um conceito que estimula o individualismo e o imediatismo.
Mas, o que é ansiedade? Utilizemos uma descrição de M.A. Bernik e C.B. Carneiro para entendermos. Trata-se de uma:
– Qualidade de emoção, vinculada ao medo e à expectativa (o sujeito pode ou não perceber a apreensão) associada por definição a um estado emocional negativo ou aversivo (ou seja, descrita como desagradável) e quase sempre acompanhada de sintomas físicos inespecíficos associados à excitação autonômica, tais como palpitações, sudorese, tremores, respiração ofegante, sensação de sufocação, entre outros;
– A ansiedade, desta forma, se diferencia de outros estados de expectativa, não associados à vivência emocional aversiva;
– Pode ser considerada normal ou patológica a partir da relação entre seus fatores desencadeantes e a intensidade das manifestações;
– É tônica ou generalizada quando é mantida ao longo do tempo, fásica, quando ocorre em surtos; situacional, quando reativa a estímulos particulares (como nas fobias) ou espontânea.
Independentemente das definições, estar ansioso é duro e dolorido de se sentir.
Hoje em dia é cada vez mais comum encontrarmos pessoas que buscam no esporte uma forma de minimizar os efeitos da ansiedade. Exercícios físicos são muito mais que benéficos ao corpo, eles também fazem bem à mente. Liberam endorfina, hormônio que gera prazer e bem-estar, além de um neurotransmissor ligado à felicidade, a serotonina, que tem uma relação direta com a qualidade do pensamento.
Há quem precise de atividades explosivas enquanto outros se beneficiam de atividades calmantes ou alongamento. O fato é que precisamos nos movimentar pelo menos três vezes por semana, entre 30 a 40 minutos no mínimo. É isso que explica porque costumamos pensar melhor depois de uma caminhada ou o fato de muitos executivos praticarem a corrida antes de começarem seu dia, a fim de colocar a mente em um bom estado.
Da mesma forma, ouvir uma boa música, assistir a um bom filme, ver uma exposição inspiradora, caminhar por lugares agradáveis, são atitudes que podem relaxar.
No contexto profissional, é importante entendermos que termos demandas cada vez maiores, mais complexas e velozes é um fenômeno do mundo contemporâneo. Especialmente no mundo corporativo, há muitos papéis a analisar, muitos contatos a fazer, muitas situações novas a entender e se posicionar. Diante disso, o caminho é buscar o equilíbrio dentro de si, no próprio ambiente de trabalho.
Algumas dicas:
Escolher um mentor em que possa confiar suas dúvidas e ouvir sua opinião é uma boa ideia, pois isso lhe servirá de apoio nas horas em que a ansiedade aparece. Um profissional experiente pode nos ajudar a olhar as coisas em perspectiva, a encontrar soluções que não percebemos e a nos ajudar a ter a coragem de enfrentar as situações com lucidez e determinação, além de reduzir uma tendência que muitos ansiosos têm de fazer drama ou tempestade em copo d’água, esperando sempre o pior cenário.
Encarar situações novas como desafios comuns e não encruzilhadas, é outra dica. A realidade de hoje está repleta de novas realidades, o mundo é cada vez mais líquido, como nos ensina o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. As certezas absolutas se diluem e o que é relativo ganha espaço. Diante disso, precisamos de algo que seja sólido, que é a nossa disposição em aprender. No lugar de pensar o que queremos da vida (que o outro mude, que o cliente espere, que a próxima demanda seja mais fácil, que o trabalho diminua, que o outro não cobre tanto), podemos trazer a pergunta para nós mesmos e refletir: o que podemos aprender a fazer diferente? Qual seria uma forma mais produtiva de encarar a situação? Como uma pessoa mais experiente poderia perceber essa mesma situação que estou vivendo? Aonde meus pensamentos estão me levando? O que eu diria para uma pessoa que eu considero muito se ela estivesse vivendo a mesma situação que eu?
Muito da nossa ansiedade é criada por nós mesmos e, assim, nos cabe refletir sobre os pensamentos que crescem dentro de nós, não nos tornando reféns deles e sim percebendo-os como visitantes. Quando bem-vindos, eles permanecem e nos ajudam. Quando nos trazem ansiedade e sofrimento, eles devem ser convidados a se retirar e substituídos por outros que sejam mais sadios e produtivos. Fácil? Certamente não, mas necessário.
Administrar seu tempo é fundamental. É preciso organizar o tempo para o trabalho e o tempo para o lazer, para a convivência com amigos e família, para dar ao cérebro o descanso e a tranquilidade que “recarregam” as energias. Faça um inventário do seu tempo durante uma semana e veja como você gasta suas horas, desde o café da manhã até a hora em que vai dormir. Depois, analise se você está aproveitando da melhor maneira o seu cotidiano. Um dos aspectos que ajuda é aprendermos a dar foco naquilo que estamos fazendo, pois fazer muitas coisas ao mesmo tempo gera retrabalho, dívida, culpa e geralmente se mostra improdutivo.
Para finalizar, é preciso considerar que a ansiedade é inerente ao ser humano. Ela deriva do latim “ansiare”, ou seja, espera. Sempre esperamos. Nosso cérebro sempre projeta algo sobre o “por vir”. A grande sacada é perceber que nós somos os donos desse cinema interno e podemos projetar para nossa vida algum senso de equilíbrio, algum senso de saúde, algum senso de produtividade. Aprender a administrar a sua ansiedade é um dos atos de maior amor que você pode ter consigo mesmo.
Lembretes:
# Hábitos e atitudes podem ajudar a lidar com a ansiedade
# Grande parte da ansiedade advém da forma como encaramos o mundo
# Estar presente por inteiro no que fazemos é um bom caminho para lidar com a ansiedade
# A ansiedade é inerente ao ser humano e por isso devemos aprender a lidar melhor com ela
TESTE
Coloque V para as frases verdadeiras e F para as falsas.
- Pessoas ansiosas deixam as atividades inacabadas, deixando para os outros fazerem seu papel.
- A ansiedade é um mal que nos atrapalha e precisa ser eliminado.
- Os profissionais de alta performance sabem lidar com a ansiedade.
- É possível controlar a ansiedade por diversos meios, tais como: meditação, relaxamento, exercícios físicos, entre outros.
- A pessoa ansiosa é aquela que sente medo de tudo.
GABARITO
- F
As pessoas que deixam suas atividades inacabadas podem ser classificadas como irresponsáveis ou imaturas, pois não cumprem com o que se comprometem e com o seu dever. Isso não tem relação com ansiedade. Pessoas ansiosas podem ter dificuldade em finalizar suas atividades, porém, não o fazem por irresponsabilidade.
- F
A ansiedade é algo que faz parte da vida do ser humano, e por isso não pode ser eliminada. Ela realmente pode ser perigosa e nos atrapalhar em alguns momentos, quando está em níveis elevados, porém, em outros, pode ser útil para que nos preparemos melhor e tenhamos empenho para aprimorar.
- V
Profissionais de alta performance sabem lidar com a ansiedade pois não deixam que a mesma interfira negativamente em seu desempenho. Eles se motivam diante do novo e conseguem equilibrar sua agenda diante das demandas crescentes em sua vida.
- V
Com certeza, está ao nosso alcance praticar atitudes e hábitos para lidar e controlar a ansiedade, como os citados na frase.
- F
A ansiedade e o medo muitas vezes são confundidos, porém, a diferença principal entre eles é que o medo geralmente está associado a algum fator concreto e palpável que o faz disparar, enquanto que a ansiedade não necessariamente está ligada a algum evento específico ou concreto, é mais relacionada a fatores subjetivos.
CLIPPING
DVD | NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA
EUA 1977 – Dir. Woody Allen – Com Woody Allen, Diane Keaton, Tony Roberts, Carol Kane Alvy Singer, um humorista judeu divorciado que faz análise há quinze anos, apaixona-se por Annie Hall, uma cantora em início de carreira e um tanto complicada. O relacionamento dos dois é marcado pelos desentendimentos e pelo estresse de saber lidar com os problemas de mais uma pessoa. Porém, é isso que os faz um casal peculiar. Mesmo sendo considerados vícios, a ansiedade e o estresse são comuns e permeiam o comportamento humano, modificando a vida das outras pessoas à volta, também. Deixa o homem alerta sobre o que deverá enfrentar e ainda o humaniza, sabendo que há falhas. |
DVD | NÚMERO 23
EUA 2007 – Dir. Joel Schumacher – Com Jim Carrey, Virginia Madsen, Logan Lerman, Danny Huston. Walter Sparrow ganhou um livro de presente de sua esposa, Agatha, que se chama “O Número 23”. O livro narra a obsessão de um homem com este número e como isto começa a modificar sua vida. Ao lê-lo Walter reconhece várias de suas passagens, como sendo situações que ele próprio viveu. Aos poucos ele nota a presença do número 23 em sua vida, tornando-se paranoico. O filme mostra o limite que deve haver entre a ansiedade e o medo de viver, como ela passa a tomar conta do cotidiano de Walter, interferindo em suas escolhas, comportamento e caráter. |
CINEMA | A PELE QUE HABITO
Espanha 2011 – Dir. Pedro Almodovar – Com Antonio Banderas, Thierry Jonquet Richard Ledgard é um cirurgião plástico que, após a morte de sua mulher em um acidente de carro, se interessa pela criação de uma pele com a qual poderia tê-la salvo. Após doze anos, ele consegue cultivar esta pele em laboratório, aproveitando os avanços da ciência e atravessando campos proibidos e eticamente questionáveis. A ansiedade de Ledgard em retomar o passado e tratar a sua loucura como uma forma de produzir algo fora da realidade faz com que o cirurgião relativize o sentido de felicidade, não se livrando das culpas passadas. |
TEATRO | DESCONHECIDOS
Até 25/11 Ruth Escobar Sala Dina Sfat R. dos Ingleses, 209 – Morro dos Ingleses – Centro. Telefone: 3289-2358 Ingresso: R$30 Horários: quinta: 21h30; sexta: 23h30
Na comédia, vários personagens históricos se encontram. William Shakespeare está escrevendo uma peça ao mesmo tempo em que ela é assistida pelo público. No meio de uma crise existencial e falta de inspiração para escolher o protagonista, surgem personagens lendárias. A mente do dramaturgo se transforma no palco do espetáculo. Shakespeare conversa com Albert Einstein, dá conselhos para Moisés e faz terapia com Freud junto a Van Gogh. A peça demonstra como a ansiedade, na medida certa, pode ser um estímulo à criatividade por levar o artista ao ímpeto de inventar e inovar. |
EXPOSIÇÃO | GIAN CALVI – 50 ANOS VENDO AS COISAS DE OUTRO JEITO
Até 13/11 Caixa Cultural Praça da Sé, 111 – Sé Tel.: 3107-0498 Horários: ter. a dom. 9h às 21h Gratuito
A exposição mostra os 50 anos da colaboração de Gian Calvi para movimentos artísticos, publicitários, editoriais e de responsabilidade social. A obra do artista gráfico ítalo-brasileiro soma mais de 140 ilustrações de capas de livros infanto-juvenis e inúmeros projetos para obras de Jorge Amado, Cecília Meirelles, Erico Veríssimo e Stephen King, dentre outros grandes nomes da literatura. Calvi também ficou conhecido pelo trabalho como consultor artístico e designer dos Correios e da Casa da Moeda, colaborando para a renovação da produção de selos, carimbos e fascículos, sem esquecer dos trabalhos publicitários e as ações sociais para instituições como ONU, Unesco e Unicef. O trabalho dele assinala a ânsia da criação para o artista, como forma de incentivo a obras que mudam o olhar para o cotidiano e a arte.
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QUIZZ
- Leia a seguir uma frase do dramaturgo George Bernard Shaw e um trecho da música Miedo, de Lenine:
“A ansiedade e o medo envenenam o corpo e o espírito”, George Bernard Shaw
“O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar
(…)
Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá”
Assinale a alternativa que mostra o quanto a ansiedade e o medo estão vinculados, quando excessivos, ao desestímulo humano:
- O medo serve apenas como forma de alerta para o indivíduo agir diante dos acontecimentos e não interfere no bem-estar humano.
- A ansiedade e o medo podem funcionar como uma limitação aos objetivos humanos e o indivíduo envenena a si mesmo com eles. São sentimentos que conseguem parar abruptamente o indivíduo em sua busca por uma ascensão profissional.
- Lenine não afirma que o medo tem a capacidade de impedir a felicidade do homem, pois não há ligação dela com o fato do medo ser “uma força que não me deixa andar”.
Resposta: B. O medo e a ansiedade envenenam o espírito por meio do pensamento do próprio indivíduo, que os toma como forma de limitar suas ações. O medo impede o homem de andar, de ser autônomo, de posicionar-se diante dos outros. Por isso, ele interfere no bem-estar das pessoas e, consequentemente, na felicidade, pois se sentir preso por um medo gerado por si mesmo é uma maneira de limitar o grande profissional que se pode ser.
LIVROS INDICADOS
SERVAN-SCHREIBER, David – Curar: o stress, a ansiedade e a depressão. São Paulo: SA Editora, 2004
No livro Curar, o neurologista consagra a prática de tratamentos alternativos conhecidos, mas que até agora não tinham o referencial estabelecido pela ciência. Segundo o autor, o corpo tem um instinto básico que o inclina para a cura, profundamente ligado ao nosso próprio instinto de sobrevivência. Confiar nesse instinto é se conhecer e se ajustar integralmente para ser feliz. Schreiber incentiva a utilização de métodos naturais, alguns conhecidos há muito tempo, mas pela primeira vez comprovados em sua eficácia. |
EMANUEL, Ricky – Ansiedade. São Paulo: Editora Almedina, 2010
Que função desempenha a ansiedade no desenvolvimento da personalidade humana? A ansiedade é um sinal de alerta, significando a presença do perigo e que há o risco de se desencadearem emoções avassaladoras, dando origem a um sentimento de desamparo. Este livro descreve de que modos foram a ansiedade e a angústia concebidas pelos psicanalistas – desde Freud até aos dias modernos. |
WATANABE, Ken – Curso básico para resolver problemas e tomar boas decisões. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2011
Concebido originalmente para ensinar o raciocínio crítico e analítico aos jovens, ‘Curso Básico para Resolver Problemas’ se tornou conhecido graças à simplicidade e à força das estratégias ensinadas pelo autor. Trazendo exemplos concretos, quadros explicativos e ilustrações, este livro procura ensinar, passo a passo, como encontrar a melhor solução para qualquer tipo de desafio. O leitor poderá aprender a avaliar o quadro geral, a decompor o problema em partes menores, a formular hipóteses e verificá-las, a questionar sua intuição e a tomar boas decisões. |
LEAHY, Robert L. – Livre de ansiedade. Porto Alegre: Editora Artmed, 2010
Esta obra investiga as origens da ansiedade e ensina como levar uma vida menos estressante. Utilizando os métodos propostos pelo autor, baseados em tratamentos psicológicos disponíveis, pode-se conquistar uma vida livre de apreensão e tensão relacionadas à ansiedade. |
BURGESS, Anthony – Laranja Mecânica. São Paulo: Editora Aleph, 2004
Laranja mecânica é um dos ícones literários da alienação pós-industrial que caracterizou o século. Revela uma perturbadora história de uma sociedade futurista em que o estresse conduz à violência de proporções descomunais e provoca uma resposta igualmente agressiva de um governo totalitário. A postura da personagem, ansiosa excessivamente em agir por conta própria, se apresentar como um ser autônomo, faz refletir sobre os limites humanos, o quanto os valores da sociedade influenciam a constituição do indivíduo e como a pressão desumana de um governo que descuida dos valores éticos pode produzir a maldade irreversível. |
PEDROSA, Inês – Fazes-me falta. Rio de Janeiro: Editora Alfaguara Brasil, 2010
Neste livro, a autora compõe uma narrativa com duas vozes distintas – um homem e uma mulher – que se entrecruzam em monólogos e apresentam, aos poucos, uma relação de paixão e amizade. Mas eles dialogam por um contato partido, já que a moça morreu jovem. No entanto, é ela quem ampara seu companheiro da perda e da solidão. A ansiedade permeia a vida de ambos, como o índice da vida que não foi plenamente realizada, com idealizações, encontros, desencontros e lembranças dolorosas pela ânsia de viver, o que resultou em um esquecimento do que realmente era importante na vida de cada um. |
FONSECA, Rubem – José. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2011
José, desde menino, é apaixonado por literatura. A motivação pela escrita, além de propiciar as fantasias da infância, também o ajudou em momentos difíceis da vida adulta e o tornou escritor de obras corajosas, que diziam o que era proibido de ser dito. A ânsia pelo conhecimento fez com que José amadurecesse por meio das palavras, vendo a Literatura como um desafio para compreender a própria vida. |