Nicolau Maquiavel, em sua obra-prima “O Príncipe” (escrito em 1513 e publicado em 1532), abre as portas do pensamento humano para a era moderna. O historiador, poeta, diplomata e músico italiano traz em seu livro dois conceitos novos -para a época- ao descrever um líder. Para Maquiavel, o espírito de liderança sustenta-se na virtú e na fortuna.
Fortuna é a deusa romana da sorte e, para o historiador italiano, representa os acontecimentos inevitáveis na trajetória de um príncipe. Ele utiliza a figura do monarca e foca o contexto político para descrever os conceitos de liderança. Uma doença ou uma tragédia natural, por exemplo, são atributos da sorte, por isso não estão sob controle de ninguém. Já a virtú é a capacidade pessoal para se manter no poder e esta não apenas pode ser controlada como também aprimorada pelo líder.
Para Maquiavel, portanto, o líder é aquele que, contando com a sorte, conduz uma sociedade por meio de conceitos sólidos e não mais transcendentais.
É nesse ponto que ele introduz a modernidade, rompendo com a Idade Média, cujos pilares eram os dogmas e os conceitos de liderança estavam sustentados no divino, nos desígnios do destino e não na atitude humana.
A definição “maquiavélica” de liderança política se sustentou por três séculos e pode servir como inspiração para refletirmos sobre o papel do líder. Essa inspiração histórica, aliás, vai além do que Maquiavel trouxe de novo na transição entre Idade Média e mundo moderno: a capacidade humana suplantando o mistério divino. É também inspirador o momento em que Maquiavel é superado pela ideia da democracia, quando passa a não mais haver um único príncipe exercendo suas virtudes, mas sociedades de participação coletiva e lideranças descentralizadas.
Maquiavel dizia, por exemplo, que entre um príncipe ser admirado ou temido por seus subordinados, deveria exercer o poder pelo medo – um conceito que caiu por terra numa era em que as leis valem para todos.
Apesar dessa evolução histórica, ainda há ecos do passado nos dias de hoje. E aqui voltamos ao mundo corporativo. Em pleno século 21, há quem lidere seguindo a ideia medieval de que seu poder emana de alguma divindade.
Não é incomum encontrarmos gestores com posturas quase “divinas” diante de sua equipe, como se o erro nunca fosse presente em suas decisões e coubesse sempre aos “subordinados” apenas a tarefa de acatar suas decisões “supremas”. Da mesma forma, há quem siga os conceitos maquiavélicos para exercer poder, agindo por meio da opressão, mantendo a equipe em constante estado de medo (de ser advertido em público, de ser humilhado, de ser demitido).
Não é mais sustentável no mundo de hoje exercer liderança de forma inquisitória ou despótica. Líderes são exemplos para suas equipes e, portanto, devem ter uma postura que agregue valores ao grupo, fazendo deste um time, uma equipe unida em objetivos comuns, em que todos partilham dos louros da vitória. Sem participação, cada membro do time age isoladamente e, ao partir-se, uma equipe se enfraquece. O contrário disso é a partilha, a participação.
Exercer liderança é um constante aprendizado. Presidentes de empresas tradicionais, construídas como marcas de grande valor em escala global, se veem constantemente desafiados a reinventar formas de se adaptar à realidade líquida do mundo de hoje. Este conceito é trabalhado pelo sociólogo Zygmunt Bauman para descrever um mundo de valores que se diluem e se refazem em alta velocidade, diante de um mercado de trabalho altamente complexo e interdependente.
Observar a dinâmica das corporações nos últimos anos é um exercício interessante para entender esse novo mundo. Nos anos 50, por exemplo, tempo em que se “fazia carreira” numa empresa por uma vida inteira, a distância entre um presidente e um estagiário era de muitos degraus profissionais. Hoje, essa distância diminuiu substancialmente, o que aproximou o líder de todos os profissionais da sua empresa. Isso requer maior habilidade na tomada de decisões. As equipes são cada vez mais enxutas e, por isso, a sinergia é crucial.
Liderar nos dias de hoje é, portanto, sinônimo de exemplo. O diálogo, a partilha de decisões, o espírito de time, tudo isso é muito importante. Porém, nem sempre na vida de um líder é possível evitar decisões cruciais ou uma postura que pode soar como autoritária. Em uma situação de crise, quando se tem um tempo exíguo ou poucos dados para elaborar uma solução, cabe ao líder o ônus da responsabilidade.
Por isso mesmo é importante manter uma atualização constante a respeito de práticas. O mundo de hoje requer líderes que saibam tomar decisões, aprendam com cada experiência e consigam extrair de seus erros importantes lições que cultivem a motivação e o espírito de equipe entre seus colaboradores. E, fundamentalmente, líderes que são exemplos são também inspiradores, são pessoas que transmitem segurança, que são animadas e com quem é possível aprender algo constantemente. Você já se perguntou que tipo de líder você é, poderia ou gostaria de ser?
Adorei!
Queria ler alguns pensamentos de Maquiavel a um tempo mas não estou conseguindo organizar a rotina para isso.
Seu artigo é rápido, claro e breve. Consegui aprender bastante!