Saiba como se conhecer melhor para lidar com os sentimentos que elas provocam
Viver é fazer parte de um processo de perdas e ganhos. Assim como os ganhos nos trazem momentos de felicidade e bem-estar, as perdas nos afetam e provocam sentimentos como revolta, frustração e raiva. Saber lidar com os momentos ruins torna a vida mais equilibrada. Além disso, existem as perdas inevitáveis, das quais ninguém pode escapar. Envelhecer faz parte delas, pois muitos sentem que estão perdendo tempo e vida, sem valorizar os ganhos que a vida traz.
Para conseguirmos lidar melhor com nossas frustrações internas e arrependimentos do que passou, o autoconhecimento é extremamente necessário. Com a atitude correta e com a ação do tempo, a superação de eventos frustrantes trará crescimento, sabedoria e benefícios para sua vida.
De tempos em tempos, devemos refletir sobre nossas atitudes e analisar o que desejamos mudar. Assim, além de evitar alguns momentos estressantes, saberemos lidar com os que vierem e trabalhar com o que está ao nosso alcance: o momento presente.
Envelhecer sem frustrações
Um dos motivos que mais traz sofrimento é uma comparação com uma idealização do que deveríamos ser, do que os outros são ou do que já fomos. A sexualidade e a libido de uma pessoa aos 15 anos é diferente de outra aos 60, o que não significa melhor ou pior.
Com os anos, ganhamos em qualidade, autoconhecimento, percepção do nosso ritmo, profundidade, conexão com o outro, é uma sexualidade diferente que não deve ser comparada.
Envelhecer não precisa significar perdas quando a visão é de amadurecimento e mudança. Em vez de pensar “no meu tempo”, deve-se entender que o tempo é o presente. Uma aceitação resiliente da vida deve substituir o pensamento “não aceito isso”.
Se por um lado passamos por processos naturais de envelhecimento físico: perdemos cabelos, vitalidade, firmeza da pele, etc., por outro lado, nosso corpo espiritual pode ser um contraponto a este curso. Uma visão de mundo mais desapegada, sem a pretensão de controle excessivo, mais tolerância dos defeitos dos outros e de si mesmo. É preciso aceitar que as coisas mudam e a vida é repleta de ciclos.
A maturidade não é um assombro para aqueles que viveram bem o passado. Para os que não o aproveitaram como gostariam, o envelhecimento não precisa se tornar amargor. Podemos usar essa fase da vida para suprir as dívidas do que passou e fazer o melhor uso possível do agora.
Cultura da felicidade extrema
Nossa cultura atual supervaloriza a felicidade e a diversão, como se a vida pudesse ser uma grande balada. Isso pode trazer frustração para as pessoas quando algo não sai como o planejado, paralisando-as frente ao insucesso. Entretanto, não há como evitar perdas e frustrações na vida.
Viver em sociedade significa nunca conseguir tudo o que eu desejo, seja um trabalho, uma vaga no estacionamento ou um amor. Fazer escolhas é parte da vida. Um ensinamento da Cabala diz que, quando nascemos, estamos em uma escada rolante para baixo e, portanto, se não houver o desejo de evoluir, só vamos continuar decaindo.
Os momentos de perda são oportunidades de amadurecimento. Deixar de comparecer a um enterro, não visitar alguém que está doente e outras atitudes do tipo são posturas mesquinhas diante da grandiosidade e da brevidade da existência. A beleza da vida só existe graças ao contraste com a dor, com o sofrimento e com a perda. São nessas horas que precisamos escolher como lidar com o que aconteceu de ruim – é o momento da dignidade, da liberdade mais profunda. A maneira como reagimos ao que acontece nos define. Posso tanto aprender com o fato quanto me revoltar contra ele. E é preciso aceitar que não estamos prontos para tudo.
Processo de superação
Resta compreender que o controle da vida foge ao nosso poder. Surpresas boas e ruins virão, podendo ou não ter relação com nossas ações. Saber perder com dignidade é parte do processo. Precisamos continuar a reverenciar a vida. Uma perda pode paralisar. A dificuldade para superar pode impedir de seguir em frente e há os que jamais se recuperam. Um amigo ou um projeto podem ajudar a dar a volta por cima – seja ele um vizinho, um psicólogo, um filho ou uma causa.
A superação é um processo que acontece de maneiras diferentes nas pessoas, de acordo com a resiliência de cada um. Ninguém está pronto para lidar com tudo o que pode acontecer, mas as dores e alegrias são necessárias para nossa existência. Recuperando o direito de sofrer e de sentir honestamente o que acontece em nossas vidas, seremos ainda mais felizes quando algo bom ocorrer, pois estaremos vivendo de verdade. Não faz bem para ninguém viver atrás de uma máscara onde o bom e o mau se equivalem.
Frustrações também são “desagradáveis, porém necessárias” em nossas vidas. Podemos aprender muito com momentos ruins e viver é frustrar-se. Os pais, por exemplo, ao impor limites aos filhos, os ajudam a crescer sem serem mimados, folgados, tiranos e a perceber que o mundo não gira ao redor de ninguém.
Três dicas de ouro para lidar com o erro, segundo o livro “Sem medo de errar: as vantagens de estar enganado”, de Alina Tugend: primeiramente, lembrar que ninguém é perfeito. Esperar a perfeição é garantia de frustração. Depois, tentar entender o processo que levou ao erro. O erro não é resultado de apenas um culpado, mas sim de todo um processo que o precede. Por fim, é preciso mudar de estratégia. Tentar obter um novo resultado através de uma maneira que se comprovou errônea é impossível. Elaborar uma nova estratégia, que pareça ser mais eficaz, aproximará você de sua meta. E você, já está vivendo a sua realidade da melhor forma possível? Viva-se!
Fica a dica:
- Tenha paciência consigo; o tempo sozinho não cura nada; é preciso buscar novas experiências, novas rotinas, novos hábitos.
- A frustração traz dor, e isso faz parte da vida. Da mesma forma, ter escolhas sobre o que fazer com a dor é um dado da nossa humanidade, e essas escolhas são relacionadas a:
– aceitar a realidade, por mais dura que seja,
– buscar a mudança dentro de si, e não esperar que o mundo mude,
– buscar o novo numa perspectiva realista, com otimismo realista, ou seja, refletir sobre o que é possível na minha idade, do jeito que sou e na minha fase de vida.